A Lua, esse satélite que nos acompanha há bilhões de anos, guarda segredos que ainda estamos começando a entender. Uma das mais intrigantes é a sua assimetria: por que o lado que vemos da Terra é tão diferente do lado que nunca vemos, aquele que fica escondido? A resposta, segundo novas pesquisas da missão Grail da NASA, revela que o interior lunar é mais complexo do que parece, com diferenças que ajudam a explicar sua geologia e história de forma surpreendente.

Imagine a Lua como uma bola de massa plástica que, ao girar ao redor da Terra, sofre pequenas deformações por causa da força gravitacional do nosso planeta. Essas deformações, chamadas de deformações de maré, fazem com que o lado que está voltado para a Terra se flexione um pouquinho mais do que o lado oposto. É como se um lado de uma maçã fosse um pouco mais macio, e, ao girar, ele se esticasse mais do que o outro. Essa flexibilidade indica que o interior da Lua não é uma massa homogênea; ele tem diferenças de temperatura e composição que se refletem na superfície.

Ryan Park, um dos principais pesquisadores do estudo publicado na revista Nature, explica que o lado próximo da Lua é mais quente e geologicamente mais ativo nas profundezas do que o lado afastado. Essa atividade antiga, há bilhões de anos, teria sido causada por um vulcanismo intenso que, por sua vez, deixou marcas na superfície, como os mares de basalto que hoje contemplamos. Essas vastas planícies de rocha derretida solidificada contrastam com o terreno muito mais acidentado do lado oposto, que é mais antigo e menos vulcânico.

O que torna tudo isso ainda mais fascinante é a ideia de que o calor gerado por elementos radioativos, como tório e titânio, se acumulou mais intensamente no lado próximo, mantendo essa parte da Lua mais quente até hoje. Essa diferença de temperatura, estimada entre 100 e 200 graus Celsius, impacta não só a superfície, mas também o interior, alimentando processos geológicos que, até agora, pensávamos serem coisa do passado.

Ao analisarem os dados das naves Ebb e Flow, orbitando a Lua entre 2011 e 2012, os cientistas criaram o mapa gravitacional mais detalhado já feito para o satélite. Essa ferramenta é como um raio X que revela como o interior da Lua reage às forças externas. Com ela, podemos não apenas entender melhor nossa companheira cósmica, mas também preparar futuras missões de exploração, usando sistemas de navegação mais precisos e seguros.

E o mais interessante é que essa abordagem de estudar o interior através da gravidade pode ser aplicada a outros corpos do sistema solar, como as luas de Saturno, Ganimedes e Encélado. Essas luas, que despertam o interesse na busca por vida fora da Terra, podem nos revelar histórias de formação, atividade e potencial de habitabilidade.

No final das contas, a Lua não é apenas um objeto de beleza no céu, ela é uma janela para o passado da Terra e um laboratório natural que nos ajuda a compreender os processos que moldam os mundos ao nosso redor. As diferenças entre seus lados são como páginas de um livro antigo, cheio de pistas sobre sua origem e evolução. E, enquanto continuamos a explorar essa vizinha próxima, cada descoberta nos aproxima de entender melhor o universo em que vivemos — e também de como podemos, no futuro, explorar e talvez até habitar esses mundos distantes.

Fonte: Assimetria do interior da Lua pode explicar a diferença dos dois lados do satélite – Folha de S.Paulo | Link da fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2025/05/assimetria-do-interior-da-lua-pode-explicar-a-diferenca-dos-dois-lados-do-satelite.shtml