Imagine o céu de Minas Gerais como um grande palco, onde, de vez em quando, uma peça impressionante acontece — uma bola de fogo atravessando o céu à noite. Essa cena, que parece saída de um filme de ficção científica, na verdade tem uma explicação bastante científica, assim como uma boa história precisa de uma explicação clara e lógica. E essa história envolve um pedaço de lixo espacial, um foguete reutilizável e uma reentrada atmosférica.
Quando moradores de Minas Gerais e de outras regiões como Bahia, Goiás e Distrito Federal viram aquela luz brilhante, eles estavam testemunhando um fenômeno que, na verdade, é bastante comum, embora poucos tenham visto antes. A luz que corta o céu, conhecida popularmente como “bola de fogo”, é na realidade o resultado de um pedaço de lixo espacial, especificamente o segundo estágio de um foguete, que estava orbitando a Terra há anos. Nesse caso, era um estágio do Falcon 9, um foguete criado pela SpaceX, a famosa empresa de Elon Musk. O que aconteceu foi que esse pedaço de foguete, após anos em órbita, começou a perder energia e a sua trajetória entrou na fase final: a reentrada na atmosfera terrestre.
Para entender melhor, pense no lixo que acabamos jogando fora: uma garrafa plástica, uma folha de papel, restos de comida. Mas, no espaço, o lixo não é feito de papel ou plástico, e sim de satélites desativados, pedaços de foguetes e fragmentos de colisões. Esses detritos viajam a velocidades incríveis — mais de 28.000 km/h — e, por isso, representam um grande perigo. Quando um pedaço de lixo espacial reentra na atmosfera, ele aquece devido ao atrito com o ar, assim como uma pedra que aquecemos até ficar vermelha ao passar a mão perto do fogo. Essa queima intensa faz com que o pedaço brilhe e, muitas vezes, se fragmenta em pedaços menores, criando aquele clarão que vemos no céu.
No caso do fenômeno de Minas Gerais, os especialistas da Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (Bramon) confirmaram que não se tratava de um meteoro comum, mas de uma reentrada controlada de um pedaço de foguete. O Falcon 9, por sua vez, é um foguete que revolucionou o acesso ao espaço ao incorporar a capacidade de reutilização parcial do seu primeiro estágio. Essa inovação significa que o foguete, depois de lançar uma carga útil, consegue retornar à Terra, pousar de forma vertical e ser utilizado novamente, reduzindo custos e aumentando a frequência de lançamentos.
Se compararmos o Falcon 9 com uma escada que podemos usar várias vezes, fica mais fácil entender sua importância. Essa tecnologia ajudou a diminuir o custo de colocar satélites em órbita, o que é fundamental para a expansão de comunicações, internet global e até missões científicas. Desde seu primeiro lançamento em 2010, o Falcon 9 já realizou mais de 345 missões bem-sucedidas, colocando no espaço tudo, desde satélites de comunicação até cargas para a Estação Espacial Internacional.
Por isso, o que vimos no céu de Minas Gerais foi, na verdade, um pedaço de lixo espacial retornando ao planeta, uma peça do enorme quebra-cabeça do universo que todos nós temos o privilégio de testemunhar. Essa luz brilhante é a prova de que estamos cada vez mais explorando o espaço, mas também nos lembra da importância de cuidar do nosso ambiente, até mesmo o que está além da nossa atmosfera. E, assim como aprendemos com a ciência, podemos entender e apreciar esses fenômenos como parte de um universo que está sempre em movimento, sempre em transformação.
Fonte: O que Elon Musk tem a ver com ‘bolas de fogo’ vistas no céu de Minas Gerais – Exame | Link da fonte: https://exame.com/ciencia/o-que-elon-musk-tem-a-ver-com-bolas-de-fogo-vistas-no-ceu-de-minas-gerais/