Imagine uma casa grande, com paredes altas, janelas que refletem o céu e um jardim bem cuidado. Dentro dela, pessoas vivem uma vida de conforto e privilégios, muitas vezes sem pensar nas realidades do lado de fora dessas paredes. Agora, pense que, de repente, essa casa começa a balançar, os arranha-céus que sustentam essa vida de luxo enfrentam dificuldades, e tudo que parecia sólido começa a parecer frágil. É exatamente essa a metáfora que o filme brasileiro *Casa Grande* (2014) nos oferece, disponível na Netflix, uma obra que nos faz refletir sobre a desigualdade social no Brasil de uma forma sensível e profunda.
O filme acompanha Jean, um adolescente de 17 anos que vive uma vida de privilégio na elite carioca, em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca. Sua rotina parece tranquila até o momento em que a crise financeira bate à porta da família. Como uma casa que começa a rachar por dentro, a estabilidade de Jean é abalada quando seu mundo de privilégios começa a se desfazer. Seu pai, Hugo, tenta esconder a crise, enquanto sua mãe, Sônia, faz o possível para manter as aparências. Mas Jean começa a perceber que o que antes parecia garantido, agora está ameaçado.
A mudança mais impactante é quando Jean precisa usar o transporte público, uma experiência que nunca havia enfrentado antes. Essa nova rotina o aproxima de Luiza, uma estudante da rede pública, e o faz confrontar as disparidades sociais e raciais que marcam o Brasil. Como se estivesse caminhando por um labirinto de espelhos, ele começa a enxergar que a desigualdade não é apenas uma teoria distante, mas uma realidade palpável, que divide vidas e histórias de maneiras que muitas vezes não conseguimos perceber de fora.
*Casa Grande* não é apenas um filme sobre uma crise financeira; é uma metáfora para o sistema social brasileiro, onde as paredes da Casa Grande de um lado e o Senzala do outro ainda existem, mesmo que de forma mais sutil. Assim como Richard Feynman, que usava analogias simples para explicar conceitos complexos, podemos pensar na desigualdade social como uma ponte que divide duas margens de um rio. Sem ela, a travessia é difícil, e quem fica na margem de cá muitas vezes nem consegue enxergar a outra.
O filme nos faz refletir sobre como o privilégio muitas vezes funciona como uma bolha, uma espécie de castelo de cartas que pode desabar a qualquer momento. E quando isso acontece, quem sofre são aqueles que estavam fora da muralha, vivendo na periferia, enfrentando as desigualdades diárias sem a proteção de um muro alto. Assim como Jean, que cresce ao perceber a realidade ao seu redor, cada um de nós pode aprender a enxergar além das paredes de sua própria casa e entender que a desigualdade social é uma questão que nos afeta a todos.
Se você ainda não assistiu, *Casa Grande* na Netflix é uma oportunidade de enxergar o Brasil através de um olhar humano e crítico, de refletir sobre privilégios e desigualdades, e de pensar em como podemos construir uma sociedade mais justa. Como uma lição de física que revela o funcionamento interno de uma máquina, o filme revela o funcionamento interno da nossa sociedade, convidando-nos a pensar em como podemos mudar as forças que mantêm essas desigualdades em equilíbrio. Afinal, entender é o primeiro passo para transformar.
Fonte: Excelente filme brasileiro está escondido na Netflix – O TEMPO | Link da fonte: https://www.otempo.com.br/entretenimento/2025/5/21/excelente-filme-brasileiro-esta-escondido-na-netflix