Quando pensamos na Terra, é como se ela fosse uma grande casa onde todos moramos. E, assim como nossa casa, ela precisa de cuidado, atenção e respeito para ficar limpa, segura e confortável. Foi exatamente essa ideia que o Papa Francisco quis passar com a encíclica Laudato Si’, um documento que virou um verdadeiro movimento global de conscientização ambiental, especialmente no que diz respeito à Amazônia e às mudanças climáticas. Ele nos convidou a olhar para o planeta com olhos de cuidado, lembrando que o que fazemos hoje impacta o futuro de todos, inclusive das futuras gerações.
A Laudato Si’ é como um alerta de que o consumismo desenfreado e o desenvolvimento irresponsável são como se fossem vazamentos em uma torneira que, se não consertarmos, podem encher uma banheira até transbordar. Francisco nos chamou a atenção para a necessidade de união global, de uma conversa sincera sobre como podemos reverter o dano que causamos ao meio ambiente. Imagine que o planeta é um grande barco, e se todos não colaborarem para consertá-lo, ele pode afundar. Então, ele nos propôs um diálogo coletivo, porque o desafio ambiental não é só de um país ou de um grupo, é de toda humanidade.
No Brasil, o Papa Francisco foi direto ao ponto ao visitar a Amazônia logo após sua eleição, em 2013. Ele percebeu que essa floresta é mais do que uma simples árvore ou um rio; ela é uma fonte de vida que sustenta o mundo todo, como um pulmão gigante. Mas, ao contrário do que muitos pensam, a Amazônia não produz quase todo o oxigênio que respiramos, como se fosse uma fábrica de ar puro. Na verdade, a maior parte do oxigênio vem dos oceanos, e a floresta é importante por sua biodiversidade, por abrigar povos indígenas que há milhares de anos vivem ali e cuidam da floresta de forma sustentável.
Durante o Sínodo para a Amazônia, em 2019, tive a chance de conversar com o Papa Francisco. Falei sobre o risco de a floresta chegar ao ponto de não retorno, um limite onde a destruição se torna irreversível. Mostrei a ele um projeto que chamamos de Amazônia 4.0, que valoriza as riquezas naturais e culturais da região, usando a bioeconomia, ou seja, aproveitando de forma inteligente e sustentável tudo o que a floresta oferece. Expliquei também a importância de respeitar os povos indígenas, que há milênios vivem em harmonia com a floresta, praticando sistemas agrícolas tradicionais que preservam o meio ambiente.
Em 2020, o Papa lançou a exortação Querida Amazônia, um documento que reforça a necessidade de proteger essa região tão rica e vulnerável. Ele falou com muita esperança, sonhando com uma Amazônia que valorize seus povos, sua cultura e sua natureza. Ele pediu que a economia seja sustentável, para que ela preserve o que há de mais belo e precioso na floresta. Assim como uma mãe que cuida de seus filhos, Francisco quis que a Amazônia fosse cuidada com amor e respeito, promovendo a dignidade de seus habitantes.
Agora, em 2023, antes da COP28, veio a encíclica Laudate Deum, na qual o Papa alerta para os sinais cada vez mais claros das mudanças climáticas. Ele nos lembra que os fenômenos extremos, como ondas de calor, secas e enchentes, são como o doente que precisa de atenção urgente. Ignorar esses sinais é como fechar os olhos para uma febre que só piora com o tempo.
O legado de Francisco é como uma bússola que aponta para a responsabilidade que todos temos com o planeta. Ele nos deixou uma mensagem clara: precisamos cuidar da Terra como cuidaríamos de uma casa que é de todos. A sua coragem e fé inspiraram pessoas ao redor do mundo a se engajarem na luta contra a degradação ambiental, na proteção da Amazônia e na busca por soluções sustentáveis.
Devemos agradecer ao Papa Francisco por nos lembrar que o futuro do planeta depende de nossas ações hoje. Ele foi um verdadeiro guardião da nossa casa comum, uma voz de esperança em tempos difíceis. Que possamos seguir seu exemplo, cuidando da Amazônia, lutando contra as mudanças climáticas e promovendo um mundo mais justo, sustentável e cheio de esperança. Nosso planeta merece esse cuidado, e a nossa responsabilidade é gigante, mas também cheia de possibilidades de fazer a diferença.
Fonte: Carlos Nobre: Papa Francisco deixa um legado para o clima do planeta e para a Amazônia – UOL | Link da fonte: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/carlos-nobre/2025/04/29/papa-francisco-deixa-um-legado-para-o-clima-do-planeta-e-para-a-amazonia.htm