Vamos imaginar a rede elétrica como uma estrada muito bem construída, onde carros (energia elétrica) trafegam de um ponto a outro, levando energia do gerador até a sua casa. Agora, pense que essa estrada, apesar de bem estruturada, precisa de um bom gerenciamento para evitar congestionamentos ou acidentes. Quando há excesso de carros em uma rua, eles podem derrubar o sistema, causando um engarrafamento gigante — que, na nossa analogia, é o apagão.
Recentemente, na Espanha, uma situação assim aconteceu de forma dramática. O que causou o apagão foi uma entrada massiva de energia solar na rede, que, ao contrário do que muitos imaginam, pode ser uma faca de dois gumes. O sol, que normalmente é uma fonte limpa e sustentável, ao gerar uma quantidade de energia que excede a capacidade de absorção do sistema, acaba sobrecarregando a rede elétrica. Quando a energia solar produz muito mais do que o sistema consegue absorver, ela provoca um efeito dominó de desconexões abruptas, levando ao colapso total da rede.
Na Espanha, durante o pico de produção solar, cerca de 70% da demanda nacional era suprida pela energia do sol. Isso equivale a um fluxo de carros na estrada que, de repente, aumenta de forma exponencial e instantânea. Nesse momento, aproximadamente 15 gigawatts de energia, uma quantidade enorme, saíram do sistema em apenas cinco segundos. Essa rápida saída de energia foi como uma enxurrada que faz a estrada ficar escorregadia e difícil de controlar, levando ao colapso do sistema elétrico.
Imagine que, ao longo do tempo, o operador de energia, a REE, já havia alertado sobre os riscos de tanta energia renovável entrando na rede. Em relatórios anteriores, eles apontaram o perigo de desconexões causadas pelo excesso de renováveis. Apesar disso, em declarações públicas, a equipe garantiu que o sistema era estável e seguro. Como alguém que promete segurança ao dirigir um carro, só para descobrir que a estrada está cheia de buracos, essa confiança se revelou equivocada.
O problema central está na forma como a energia renovável funciona. Diferente de uma usina de carvão ou nuclear, que pode gerar energia de forma contínua, as fontes de energia solar e eólica são intermitentes. Elas dependem de fatores como o sol e o vento, que variam ao longo do dia e das estações. No pico do dia, quando o sol está mais forte, a geração solar dispara, como uma fonte de água que enche um reservatório rapidamente. Se essa água não encontra uma saída adequada, ela transborda e causa problemas.
O que estamos vivendo agora é uma transição energética, uma mudança de um sistema antigo, baseado em usinas térmicas e nucleares, para um sistema mais verde, com muitas pequenas usinas e painéis solares espalhados por toda parte. Porém, essa mudança traz desafios que precisam ser enfrentados com inteligência. No caso da Espanha, a alta penetração de energia solar sem um gerenciamento adequado levou ao colapso, um verdadeiro apagão de proporções gigantescas.
E o que tudo isso tem a ver com o Brasil? Bem, o nosso país também está passando por uma transformação semelhante. A instalação de painéis solares em residências, comércios e usinas descentralizadas cresce rapidamente. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), essa expansão traz riscos de sobrecarga na rede brasileira, especialmente em estados como Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco. Imagine que, em certos momentos do dia, a energia gerada por painéis solares de casas e empresas começa a se inverter na direção do fluxo de energia, passando de um lado para o outro, como uma corrente que muda de sentido de forma inesperada.
Se esse fluxo reverso não for bem gerenciado, ele pode sobrecarregar o sistema de transmissão, levando à possibilidade de apagões no Brasil também. É como se, ao tentar encher uma estrada com tantos carros ao mesmo tempo, um congestionamento se formasse e, eventualmente, causasse um acidente. O risco de um apagão pode parecer distante, mas os especialistas alertam que, se não ajustarmos nosso sistema de gestão de energia, problemas similares aos da Espanha podem acontecer aqui.
É importante entender que, ao contrário de uma fonte de energia que funciona de modo constante, as renováveis são como um rio que enche e esvazia dependendo do clima. Para evitar que esse rio cause enchentes ou secas, precisamos de barragens, canais e sistemas de controle que regulam o fluxo. No sistema elétrico, isso significa investir em tecnologias que possam equilibrar a entrada de energia de forma inteligente, como baterias de armazenamento, sistemas de controle avançados e uma rede mais robusta.
Se pensarmos na rede elétrica como uma grande ponte que conecta diferentes regiões do país, podemos imaginar que ela precisa de suporte extra para resistir às variações de peso causadas pelas energias renováveis. Sem esses reforços, ela pode rachar ou até desabar, provocando apagões generalizados. Portanto, o crescimento acelerado de energia solar sem planejamento adequado é uma receita para problemas futuros, como já aconteceu na Espanha, e que pode acontecer aqui, no Brasil.
O que fica claro dessa situação é a importância de um planejamento inteligente na transição energética. Não basta apenas gerar energia limpa; é preciso garantir que essa energia seja integrada ao sistema de forma segura, eficiente e equilibrada. Como em uma orquestra, cada instrumento precisa estar sincronizado para que a música seja harmoniosa. Se um instrumento desafina, a peça toda pode se perder. Assim também é a nossa rede elétrica: ela precisa de harmonia para funcionar bem e evitar apagões.
Para resumir, o excesso de energia solar, se não for gerenciado corretamente, pode gerar apagões, como já aconteceu na Espanha, e o risco de que algo semelhante aconteça no Brasil é real. O segredo está em investir em tecnologia, planejamento e em uma rede elétrica que seja capaz de absorver as variações de geração de energia renovável. Afinal, a transição energética é uma jornada que exige cuidado, atenção e uma boa dose de inteligência para que ela seja segura, sustentável e capaz de abastecer o Brasil por muitos anos sem parar.
Fonte: Brasil tem ameaça de apagão pelos mesmos riscos de Portugal e Espanha – MetSul Meteorologia | Link da fonte: https://metsul.com/brasil-tem-ameaca-de-apagao-pelos-mesmos-riscos-de-portugal-e-espanha/